Por FERNANDA VIEIRA FERNANDES
Núcleo de Pesquisa Teatral
Há quinze anos trabalho com teatro. Em 1997, decidi que isso seria a minha vida. A dedicação às artes cênicas começava no antigo auditório da Biblioteca Pública. Curso de formação, universidade, oficinas, espetáculos, mestrado e doutorado, cada passo aperfeiçoando uma vocação, quiçá, um sonho. Escolhi, entre as várias opções que tal arte propõe, ser atriz.
Em 2011, veio o desafio de coordenar o Núcleo de Pesquisa Teatral. Ministrar oficinas não era novidade, eu já havia trabalhado com isso. Contudo, o grupo queria conhecer técnicas teatrais, mas era sedento, também, por fazer uma entrega final ao público e, eu, como atriz, conhecia aquele desejo. Foram cinco meses de trabalho e, em dezembro, estreávamos Kuanto Valentin? O NPT mostrava a que veio e eu dava os primeiros passos como diretora.
Com 2012, nova proposta: duas turmas de oficinas, uma iniciante e outra, avançada. Os que começavam, vinham com diferentes expectativas. Os que retomavam as oficinas iniciadas em 2011 queriam mais e mais. Escolhi para os iniciantes o trabalho com esquetes de Dino Buzzati e Harold Pinter e, para os demais, decidi adaptar Gota d’água, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Perguntei-me em diversos instantes por que eu havia feito aquela opção, tão difícil e que podia ser, de fato, a gota d’água para o NPT.
Em fevereiro, marcamos a data da apresentação de final de ano. Ensaios, muitos ensaios, horas e horas pensando, produzindo, pesquisando, divulgando, numa dedicação quase visceral. Sem recursos financeiros, porém com o coração dos meus atores na mão. Alguns, mais dedicados, outros, mais relapsos. Todos, lado a lado, me dando sobrevida para continuar.
Dia 1º de dezembro de 2012 voltei ao agora Teatro Municipal, desta vez como diretora. Descobri que estar fora de cena, para uma atriz, é muito difícil. É, talvez, como ser técnico de futebol, já que ele fica ali, junto, ao lado do campo, pensando: “Chuta! Defende! Corre!”, só que não lhe cabe fazer o gol. Com a diferença de que eu não podia nem falar com meus jogadores. Há vagas surpreendeu a todos nós e Gota d’água nos arrebatou! Tive a certeza de que todo esforço valeu a pena. Teatro cheio mesmo que na cidade houvesse programação paralela com grande investimento de mídia. Quase trezentas pessoas optaram por ver os nossos espetáculos, uma nova safra de artistas locais. Foi lindo! Nenhum suspiro quebrava o silêncio dos instantes finais da sofrida Joana em cena. Ao cair da luz, a plateia que aplaudia em pé dava ao NPT a certeza de vida longa! E confirmava a minha decisão de 1997, estando dentro ou fora do palco.
Fernanda Vieira Fernandes
Atriz, professora e coordenadora do NPT