O que a arte, e o fazer artístico têm que ver com o jovem? O que o jovem e sua vida, suas necessidades, seus anseios, têm que ver com a arte, com a cultura? Arte e cultura podem resolver alguma coisa “de verdade” na vida dos jovens, hoje? Arte prá que? Prá quem?E por quem? Indo diretamente na questão que mais me inquieta enquanto gente, pai e educador: COMO a arte pode ajudar a diminuir ou prevenir o envolvimento do jovem com as situações de criminalidade e violência? Sem respostas prontas, prefiro apontar alguns aspectos que penso serem relevantes na relação do jovem com a(s) cultura(s) e de como isso pode ajudar a alterar algumas trajetórias.
O Coletivo Cultural Feitoria do Linho Canhamo e a Rede Metrô Rock estão realizando em 2010 o primeiro Festival MetrôRock. Este festival acontecerá simultâneamente nas cidades de São Leopoldo, Sapucaia, Esteio e Porto Alegre na semana de 11 a 19 de dezembro e propõe uma programação variada e diversa, plena de atividades artísticas, educativas e socioculturais. Poderia ser mais um evento artístico, mais um festival de música, mais um ciclo de oficinas ou, até, tudo isso junto. Seria legal, sim, mas e daí? O que estamos fazendo de diferente? O que esse festival, essa REDE e esses COLETIVOS têm a oferecer que possa efetivamente produzir alguma mudança? Que possa apontar alguma nova perspectiva?
Penso que o primeiro elemento é o fato de termos consciência de que estamos fazendo arte e indo além da arte. Estamos fazendo intervenções estéticas e políticas. Mais do que propondo, estamos inventando. O primeiro fato novo é a existência de um numero considerável de coletivos que tem como ponto comum a produção artística e a circulação desta produção. Tudo isso feito de forma coletiva, solidária e autônoma. O segundo elemento acaba por ser resultado natural deste primeiro: a articulação destes coletivos em uma rede. E não é qualquer rede, não. É uma rede metropolitana de arte independente.
Para nós do Coletivo Feitoria, criar, produzir e articular um evento como este ultrapassa a dimensão artística e torna-se um ato de resistência e de afirmação. É tornar-se protagonista do processo de construção de novas formas de fazer cultura e, portanto, de novas formas de conviver. Afirmamos, assim, nossa identificação com uma arte e um fazer artístico que, para além do entretenimento e do mero deleite estético, assumem lugar central no processo de efetivação da democracia e da justiça social. Nesta perspectiva, a arte vai além da função de veículo da denúncia ou da crítica social e se propõe como espaço de construção de autonomia, fio condutor da organização da comunidade e catalisador do desejo de outros mundos possíveis.
Construir um espaço privilegiado como este, só faz sentido se pudermos compartilhar essa potência criativa com a comunidade e, em especial com os jovens, de nossa cidade e região. Essa expectativa diferenciada tem um motivo muito específico: a Arte, como a entendemos, é um dispositivo de desacomodação, provocação e renovação das formas de ser e de relacionar-se. Sem querer encaixar a juventude numa “categoria” mais ou menos confortável, acredito que neste espírito de inquietação e de provocação os jovens encontrem muita identificação com as artes.
Além dessa convergência mais conceitual, o Coletivo Feitoria também trabalha na perspectiva de geração de trabalho e renda com a juventude, através de empreendimentos de economia solidária nas áreas de construção de instrumentos, produção cultural e ensino da arte. Em breve, estes empreendimentos estarão articulando ações que irão atender preferencialmente aos jovens em situação de vulnerabilidade social e em conflito com a lei.
Poderíamos escrever muitas e muitas páginas sobre as conexões muito particulares dos jovens com as artes e os motivos pelos quais a juventude tem legitimidade para protagonizar eventos como o Festival Metrô Rock, mas a urgência e o bom senso (que nem sempre andam juntos) nos delegam uma missão: Convidá-los a participar da programação do festival e nos ajudar a criar uma experiência cultural que transborde dos palcos e das salas para as ruas dessa cidade.
Léo Guimarães,
Núcleo de Educação do
Coletivo Cultural Feitoria do Linho Cânhamo.